"A guerra acabou, mas o flagelo social continua até hoje".

(Professor Nilson Fraga)

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013



Os debates ocorridos no Seminário 100 anos da Guerra do Contestado mostraram que a motivação para o embate não se restringiu à questão de limites de fronteiras entre Paraná e Santa Catarina. Questões diversas, de ordem social, política, econômica, ambiental, cultural e religiosa ajudam a explicar o fenômeno. Também colaboraram para o conflito a falta de atenção do poder público e a falta da presença da igreja constituida na região.
Não haviam escolas. A cultura era de simplicidade interiorana e o povo, desassistido, logo se deixou levar pelas ideias dos "messias salvadores". Os nativos que ocupavam a região há mais de 100 anos viram seus sonhos de uma vida melhor desmoronarem quando a multinacional norte-americana, que prometeu trazer o progresso à região com a construção de uma estrada de ferro, desalojou-os de suas terras. Além disso, carregavam o fardo da "cor de cuia" cobrir sua pele, segundo estudos do Mestre em Geografia Nilson César Fraga.
A região envolvida no conflito era pouco desenvolvida. Abrigava em seu seio pequenos e médios agricultores, caboclos, indígenas nômades, negros e alguns emigrantes de outros Estados brasileiros, além de alguns latifundiários. O povo simples vivia da coleta do pinhão e da colheita da erva-mate, carregada em lombos de mulas pelas trilhas no meio da mata. Plantavam, colhiam, criavam galinhas, porcos e bois para consumo próprio.
Era final do século 19, início do século 20. Momento de transição entre o regime monárquico e o republicano. A lei no tempo da monarquia garantia o direito ao uso da terra a quem estivesse ocupando-a. Mas com a república tudo mudou. "Os grandes coronéis, amigos do governo, obtiveram documentos de posse e expulsaram muitos desses nativos do seu chão", afirma Nilson Fraga.
Além de toda a injustiça social sofrida por esses camponeses, Paraná e Santa Catarina contestavam na Justiça Federal os limites territoriais entre os dois Estados. Ora a região pertencia ao Paraná, ora a Santa Catarina, em um histórico de divergências em torno dos limites. Uma disputa entre o Brasil e a Argentina foi arbitrada no passado pelo Governo dos Estados Unidos, dando ganho de causa ao Brasil, com base no princípio da posse e da ocupação da terra.
A Brazil Railway Company, subsidiária da holding Lumber Company, administrada pelo empresário norte-americano Percival Farquhar, começou a construir a estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, no trecho contestado pelos dois Estados sulistas.Foram recrutados trabalhadores de diversos locais do Brasil. Alguns nativos ganharam empregos. Muito dinheiro circulava na região, outrora miserável. Mas a alegria durou pouco. Logo após o término da obra, cerca de 8 mil trabalhadores ficaram sememprego.
Alguns desses operários voltaram para seus Estados de origem, outros se assentaram por ali mesmo, às margens da ferrovia em casebres de palha. O que eles não esperavam era uma cláusula do contrato assinado entre a Lumber o Governo Federal, dando o direito à empresa de explorar a madeira e as terras de 15 quilômetros de cada lado da ferrovia. Além de ganhar as milhares de árvores entre araucárias e imbuias (madeira nobre), que cobriam o longo trecho de terra, a empresa podia colonizar a terra, vendendo-a aos imigrantes estrangeiros.
A Lumber instalou na região de Três Barras a maior madeireira da América. Eram cortados cerca de 3 mil metros cúbicos de madeira por dia, embarcados nos vagões do trem e levados a São Paulo.
As araucárias e imbuias abasteciam o mercado mundial, no entanto a riqueza gerada pela empresa não chegou ao povo, que cada vez mais miserável e desassistido, se ajuntava em redutos no interior das matas.
Foi nessa época que um monge chamado José Maria, tido como santo porque fazia remédios e rezas, confortava o povo com palavras de entusiasmo. Dizia que a monarquia era boa e não a república. Ensinava-os a dividir o pouco que tinham dizendo: "Quem tem moi, que não tem moi também".
Formou-se, então o Exército de São Sebastião, liderado pelo monge, que proclamava entre o povo a ideia de uma vida sem injustiças com terra para todos. Coronéis da região temerosos solicitaram a ajuda do Exército, dizendo que os rebeldes desejavam a volta da monarquia.
Forças estaduais e federais foram deslocadas para combater o Exército de São Sebastião. Foram quatro anos de lutas. A cada ataque os crentes mudavam de lugar. Na última operação liderada pelo General Francisco Setembrino de Carvalho, as tropas militares se dividiram em quatro colunas e cercaram o acampamento dos caboclos. Eles não podiam sair para buscar comida. Muitos morreram de fome e doenças. Sob intenso tiroteio se entregaram.
O Coronel Janary Maranhão Bussmann, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR) comenta que mapas, muito bem desenhados e ilustrados por padres que percorriam a região, os quais mostravam precisamente onde os rebeldes estavam alojados, foram de grande importância para o sucesso da última operação militar. "Sem conhecer bem o local do acampamento dos rebeldes não haveria o sucesso da operação", afirma.
"A guerra do Contestado acabou, mas deve ficar na memória de todos nós. Que se publiquem mais coisas sobre o tema. Que a memória do Contestado fique viva às futuras gerações", sugere Paulo Ramos Darengoski, jornalista e escritor.
"A guerra acabou, mas o flagelo social continua até hoje". (Professor Nilson Fraga)

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